Finalmente, vamos conhecer este escritor. Vai ser no dia 14, quinta-feira.
O texto que se segue foi retirado deste seu livro. Vale a pena ler!
“O SR. DIRECTOR”
O sr. Director chamou-me ao gabinete dele, fechou as persianas e eu vi logo que ele tinha posto uma cara daquelas de quem anda a comer ervas azedas há muito tempo.
Eu estava pequenino, cada vez mais pequenino e fiquei do tamanho de uma ervilha pequenina quando ele abriu a boca e me perguntou se eu sabia bem o pecado que tinha cometido. Eu não sabia. Ou pelo menos não me lembrava de nenhum pecado assim tão grande. Mas os olhos dele estavam muito grandes e a minha ignorância ficou pesada que nem chumbo.
Olhei à volta e à volta, a ver se algum santinho me ajudava. Mas nada. Não havia nenhum Santo à mão de semear. As paredes estavam brancas e vazias e eu fazia tudo para não mostrar que estava todo a tremer.
O sr. Director insistiu: “O menino sabe ou não sabe o pecado que cometeu?” E os olhos dele continuavam apontados contra mim como fogo em brasa. E eu, para não ficar ainda com mais culpas, disse logo que sim, que sabia muito bem qual era o pecado que tinha cometido.
O sr. Director parecia um rato pronto a deitar o dente ao queijo.... O queijo era eu e estava pronto a qualquer coisa para sair dali o mais depressa possível.
Passados para aí uns quinhentos anos ou mais, o sr. Director lá se acalmou e mandou-me ir confessar.
Foi o bom e o bonito para explicar o tal pecado na confissão. Eu não sabia dizer que pecado era aquele que tinha cometido. Fiquei muito tatebitates e pus-me a dizer que era um pecado muito grande, mesmo muito grande e muito horrível e que estava muito arrependido. E estava mesmo muito arrependido. E continuo a estar muito arrependido apesar de, passado tanto tempo, não saber ainda qual é o tal pecado tão grave que um dia cometi.
José Fanha, de "Diário inventado de um menino já crescido"
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